Hécate
Hécate Trívia ou Triformis era uma das mais antigas deusas da Grécia pré-helênica. Cultuada originariamente na Trácia como representação arcaica da Deusa Tríplice, foi associada com a noite, a lua negra, os domínios da magia, profecias, cura e os mistérios da morte, renovação e nascimento. Senhora das encruzilhadas e dos caminhos da vida e do mundo subterrâneo
Hécate é um também um arquétipo primordial do inconsciente pessoal e coletivo, que nos permite o acesso às camadas mais profundas da memória ancestral. Pois ela – ao lado de Hermes Psicopompo – é quem se movimenta entre os mundos e se revela no olhar daqueles que olham para passado, presente e futuro por meio de ferramentas oraculares. É ela também que coloca as mãos nos trabalhos de cura que transpõe as pontes entre os reinos visíveis e invisíveis, em busca de segredos, soluções, visões e comunicações espirituais para o pronto restabelecimento e regeneração dos seus semelhantes.
Filha dos Titãs Astéria (Deusa das estrelas e do aspecto sinistro da noite) e Perses (deus da destruição), Hécate é quem usa a tiara de estrelas que ilumina os escuros caminhos da noite, bem como a vastidão da escuridão interior. Neta de Nyx, deusa ancestral da noite, Hécate também é uma das “Rainha da Noite” e tem domínio na três esferas universais: no céu, na Terra/Águas e no mundo subterrâneo.
Agora, mais do que isso… Hécate é uma deusa muito, muito complexa. Viva uma vida inteira dedicada exclusivamente ao sacerdócio à Hécate e só assim poderá se considerar um iniciante em seu culto, dada a vastidão de seus domínios. Contudo, gosto de definir Hécate como a Deusa de muitas Faces, onde podemos reconhecer alguns dos seus epítetos:
- Klêidouchos é a ‘guardiã das chaves’, quem define o que e quem pode ou não cruzar suas portas e portais. Pois é ela quem decide e determina o que e quem se inicia ou se encerra dentro do mistério
- Prytania, a “Rainha dos mortos”, é a condutora das almas e sua guardiã durante a passagem entre os mundos, mas Ela também rege os poderes de regeneração, sendo invocada no desencarne e nos nascimentos
- Protyraia, é a que cuida da proteção e segurança no parto, trazendo vida longa, saúde e boa sorte ao nascido e a parturiente.
- Phosphoros é a detentora de uma aura fosforescente que brilha na escuridão do mundo subterrâneo, guardiã do inconsciente e guia das almas na transição.
- Kourotrophos é a que cuida das crianças e ama dos jovens durante a vida, incluindo a vida intra-uterina e seu nascimento, assim como fazia sua antecessora egípcia, a parteira divina Heqet.
- Propolos, é a que traz suas duas tochas apontadas para o céu e a terra, iluminam a busca da transformação espiritual e o renascimento
- Trioditis ou Enodia é a protetora dos viajantes, senhora dos caminhos e dona das encruzilhadas de três pontas, onde recebe de seus devotos pedidos de proteção e oferendas, conhecida por “ceias de Hécate”
- Propylaia é a reverenciada como guardiã das casas, portas, famílias e bens pelas mulheres, que oravam na frente do altar antes de sair de casa pedindo Sua benção.
- Triformis ou Tricephalus é a que poe a mão na massa, responsável pelos feitos mágicos e feitiços. Era representada com pilares ou estátua de três cabeças e seis braços que segurava suas insígnias sagradas: tocha (ilumina o caminho), chave e as vezes uma serpente (atando e desatando mistérios e promotora das transmutações), corda (conduz as almas e reproduz o cordão umbilical do nascimento) ou adaga (corta ilusões e medos)
- Krateis (‘poderosa’) é a que propicia o trânsito e governa os ciclos. EX: se acreditava que é graças a seus domínios que as estações do ano e as fases da vida feminina é um eterno ciclo em trânsito. Assim, Hécate formaria uma tríade divina juntamente com: Kore/Perséfone/Proserpina/Hebe no início do ciclo (que presidem a primavera, fertilidade e juventude) e com Deméter/Ceres/Rhéa – regentes da maturidade, colheita e gestação.
- Khtonia, é a senhora da sabedoria, padroeira do inverno, da velhice e das profundezas da terra.
- Trívia é, em Roma, a “dea triformis“, tríplice, patrona da feitiçaria e das práticas mágicas. Era invocada nas doenças, dado o seu poder de cura, regente dos espectros e dos espíritos. Por ser uma divindade de culto mais popular do que os “figurões” do Olimpo e das histórias de Homero, seus domínios como Trívia se aproxima dos regidos por Ártemis e Diana, sendo conhecida como “a que atira longe”, lunar, dona do Bosque e do Lago de Nemi.
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